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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Escutando a adolescência nas grandes cidades através do grafite


Texto de Heloisa Vilas Boas A. da Silva 
“Grafite como uma ação de cidadania.”
O texto vai se utilizar das ruas como uma forma de análise dos adolescentes. Essa seria um novo método de “se fazer psicologia”, saindo daquela idéia primordial de ir numa clínica psicológica para se consultar.
A palavra graffiti vem do italiano e sua tradução se dá como grafito. O dicionário Aurélio define grafito como “inscrição ou desenho de épocas antigas, toscamente riscado a ponta ou a carvão em rochas, paredes, vasos, etc”. O autor se apropria da definição vernacular proposta pelo dicionário para se referir aos grafitos.
Para José Lages e Silva, a existência dos grafitos pode ser contada em séculos, quanto que aos grafites cabe a uma fase entre a infância e a maturidade, mas ambos se assemelham quanto a “denúncia de uma outra ordem, de uma existência em um outro lugar” (p. 4).
O graffiti tem como alvo a sociedade, capaz de transformar os conceitos vistos num espaço urbano e da juventude que o alimenta.
O autor vê o grafite como uma forma do jovem marginalizado, produto de uma sociedade desigual e excludente, se integrar a sociedade, fazendo valer sua existência, sua marca, visto nesse âmbito como o graffiti e suas vertentes (pichação, tag, bomb).  Ele mostra o graffiti como uma saída artística desse jovem, expondo críticas e denuncias através dos traçados de aspecto agressivo e irregular (LAGES, 2004, p.4).
O graffiti não é uma evolução da pichação. Tanto o graffiti quanto a pichação podem dividir o mesmo espaço urbano, podendo coexistir através de uma única pessoa. Há vários grafiteiros que por vezes praticam a pichação.   
Graffiti                                          X                                     Pichação


-A idéia de que o graffiti é voltado mais                               -A ideia de que a pichação é voltada       para o campo da pintura, composto em sua grande                mais para o campo da escrita.                   maioria por desenhos e figuras.                                            -"Busca o declínio da lei" (p. 5)               -“Busca argumentar com a lei” (p.5).                                   -"Costumam buscar denegrir o local onde   -"Busca transformar nossa  maneira de enxergar" (p.5)          serão feitas." (p. 5)
-Tem todo um planejamento de como será seu                     - Feita num impulso, no calor do desenvolvimento. Muitos grafiteiros se utilizam                       momento.                                                 dos black book para desenhar seus graffitis antes                                                                                de passá-los para as paredes, além de servir como uma                                                                     forma de propaganda e propagação de seu talento, é                                                                         uma maneira diferenciada de se dar um autógrafo.                                                                               No lugar de uma assinatura se faz um desenho.

* Apesar desses critérios já não serem tão válidos para sua diferenciação. Ao mesmo tempo em que existem graffitis muito simples, existem pichações muito elaboradas, sendo quase que impossível sua leitura.
- A idéia de que o graffiti é mais elaborado e a pichação é mais instintiva é defendida por Célia Maria em seu artigo “Grafite e pichação: por uma nova epistemologia da cidade e da arte”.
- “Ambos, grafite e pichação, podem ser considerados como recursos da linguagem (...)” (p.5). (Olalquiaca, 1998, p.25)

                                                                                Tag
     Presente tanto no graffiti quanto na pichação. É a marca do autor, sua assinatura. É como será reconhecido por outros grafiteiros e pichadores.
     Tem duas funções: o registro formal, uma assinatura do artista, do produtor da linguagem, e o registro comercial, fazendo dele um slogan, uma marca que alimenta uma cultura apropriada pela mídia e pela publicidade. O artista para a ser reconhecido e referenciado pelo seu tag, desconhecendo-se em sua grande maioria seu verdadeiro nome. Ao mesmo tempo em que se torna um produto consumido, tem sua imagem e seu estilo replicados e comercializados, ele também assume o papel de consumidor, apropriando-se de tais produtos que o constituem simbolicamente.
     O tag também tem um valor territorial, mostrando a passagem e a existência daquela pessoa. A apropriação do espaço público imposto através de sua marca, de seu tag. Ele é fora dos padrões da linguagem escrita, onde as letras possuem formas variadas, partindo do imaginário do jovem que a criou. Através desse método diferenciado de se escrever o jovem pode se identificar com as palavras, reverberando nelas o seu jeito de ser.
Graffiti e pichação se assemelham quanto: ambos se utilizam dos recursos da linguagem e se apropriam dos espaços públicos, eles fazem a passagem do caseiro, do familiar, para um ambiente mais social, exterior.
Segundo Certeau (1995, p. 32), o graffiti é a quebra de um paradigma. Ele não se sujeita a homogeneidade que a sociedade vem se apropriando gerada pela indústria cultural. “Então, o grafite, podemos dizer, é um desses escritos que resistem à homogeneização, que são não apenas enunciações, mas, sobretudo, engajamento” (p.7). Ele não segue uma linearidade e não tem medo de se mostrar e fugir ao comum. 
 “Por isso, acreditamos que o grafite, enquanto cultura popular, situa-se a meio caminho entre a estética kitsch e a alegoria, pois há, na alegoria, o exercício de fundar, a partir da imagem (da metáfora), uma alternativa à impossibilidade semiótica, ou de significação” (p.8). Isso quer dizer que o graffiti é um objeto valioso que assumiu uma versão popular e que busca representar através de gravuras de aspectos surreais e do imaginário aquilo que não se pode definir por palavras, como os gostos e comportamentos da juventude pós-moderna.

“O grafite surge em Nova Iorque no final dos anos 80, inicialmente desenhado nos metrôs. Antes disso, já existiam as pichações ideológicas dos estudantes franceses, isso por volta de maio de 68” (p.9). Por que metrôs? Porque havia uma grande circulação de pessoas nos metrôs, tidos por grande parte da população como meio de transporte diário. 

Fonte: SILVA, José Lages. Escutando a adolescência nas grandes cidades através do grafite. Rio Grande do Sul, 2004.

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