“Grafite como uma
ação de cidadania.”
O texto vai
se utilizar das ruas como uma forma de análise dos adolescentes. Essa seria um
novo método de “se fazer psicologia”, saindo daquela idéia primordial de ir
numa clínica psicológica para se consultar.
A palavra
graffiti vem do italiano e sua tradução se dá como grafito. O dicionário
Aurélio define grafito como “inscrição ou desenho de épocas antigas, toscamente
riscado a ponta ou a carvão em rochas, paredes, vasos, etc”. O autor se
apropria da definição vernacular proposta pelo dicionário para se referir aos
grafitos.
Para
José Lages e Silva, a existência dos grafitos pode ser contada em séculos,
quanto que aos grafites cabe a uma fase entre a infância e a maturidade, mas
ambos se assemelham quanto a “denúncia de uma outra ordem, de uma existência em
um outro lugar” (p. 4).
O
graffiti tem como alvo a sociedade, capaz de transformar os conceitos vistos
num espaço urbano e da juventude que o alimenta.
O
autor vê o grafite como uma forma do jovem marginalizado, produto de uma
sociedade desigual e excludente, se integrar a sociedade, fazendo valer sua
existência, sua marca, visto nesse âmbito como o graffiti e suas vertentes
(pichação, tag, bomb). Ele mostra o
graffiti como uma saída artística desse jovem, expondo críticas e denuncias através
dos traçados de aspecto agressivo e irregular (LAGES, 2004, p.4).
O graffiti
não é uma evolução da pichação. Tanto o graffiti quanto a pichação podem
dividir o mesmo espaço urbano, podendo coexistir através de uma única pessoa. Há
vários grafiteiros que por vezes praticam a pichação.
Graffiti X Pichação
-A idéia de que o graffiti é voltado mais -A ideia de que a pichação é voltada para o
campo da pintura, composto em sua grande mais para o campo da escrita. maioria por desenhos e figuras. -"Busca o declínio da lei" (p. 5) -“Busca argumentar com a lei” (p.5). -"Costumam buscar denegrir o local onde -"Busca transformar nossa maneira de enxergar" (p.5) serão feitas." (p. 5)
-Tem todo um planejamento de como será seu - Feita num impulso, no calor do desenvolvimento. Muitos grafiteiros se utilizam momento. dos black book para desenhar seus graffitis antes de passá-los para as
paredes, além de servir como uma forma de propaganda e propagação de seu
talento, é uma maneira diferenciada de se dar um autógrafo. No lugar de uma
assinatura se faz um desenho.
* Apesar desses critérios já não serem tão válidos para sua
diferenciação. Ao mesmo tempo em que existem graffitis muito simples, existem
pichações muito elaboradas, sendo quase que impossível sua leitura.
- A idéia de que o graffiti é mais elaborado e a pichação é
mais instintiva é defendida por Célia Maria em seu artigo “Grafite e pichação:
por uma nova epistemologia da cidade e da arte”.
- “Ambos, grafite e pichação, podem ser considerados como
recursos da linguagem (...)” (p.5). (Olalquiaca, 1998, p.25)
Tag
Presente tanto no graffiti quanto na
pichação. É a marca do autor, sua assinatura. É como será reconhecido por
outros grafiteiros e pichadores.
Tem duas funções: o registro formal, uma
assinatura do artista, do produtor da linguagem, e o registro comercial,
fazendo dele um slogan, uma marca que alimenta uma cultura apropriada pela
mídia e pela publicidade. O artista para a ser reconhecido e referenciado pelo
seu tag, desconhecendo-se em sua
grande maioria seu verdadeiro nome. Ao mesmo tempo em que se torna um produto
consumido, tem sua imagem e seu estilo replicados e comercializados, ele também
assume o papel de consumidor, apropriando-se de tais produtos que o constituem
simbolicamente.
O tag
também tem um valor territorial, mostrando a passagem e a existência
daquela pessoa. A apropriação do espaço público imposto através de sua marca, de
seu tag. Ele é fora dos padrões da
linguagem escrita, onde as letras possuem formas variadas, partindo do
imaginário do jovem que a criou. Através desse método diferenciado de se
escrever o jovem pode se identificar com as palavras, reverberando nelas o seu
jeito de ser.
Graffiti e pichação se
assemelham quanto: ambos se utilizam dos recursos da linguagem e se apropriam
dos espaços públicos, eles fazem a passagem do caseiro, do familiar, para um
ambiente mais social, exterior.
Segundo Certeau (1995, p. 32), o
graffiti é a quebra de um paradigma. Ele não se sujeita a homogeneidade que a
sociedade vem se apropriando gerada pela indústria cultural. “Então, o grafite, podemos dizer,
é um desses escritos que resistem à homogeneização, que são não apenas enunciações,
mas, sobretudo, engajamento” (p.7). Ele não segue uma linearidade e não tem
medo de se mostrar e fugir ao comum.
“Por isso,
acreditamos que o grafite, enquanto cultura popular, situa-se a meio caminho
entre a estética kitsch e a alegoria, pois há, na alegoria, o exercício
de fundar, a partir da imagem (da metáfora), uma alternativa à impossibilidade
semiótica, ou de significação” (p.8). Isso quer dizer que o graffiti é um
objeto valioso que assumiu uma versão popular e que busca representar através
de gravuras de aspectos surreais e do imaginário aquilo que não se pode definir
por palavras, como os gostos e comportamentos da juventude pós-moderna.
“O grafite surge em Nova Iorque no final dos anos 80,
inicialmente desenhado nos metrôs. Antes disso, já existiam as pichações
ideológicas dos estudantes franceses, isso por volta de maio de 68” (p.9). Por
que metrôs? Porque havia uma grande circulação de pessoas nos metrôs, tidos por
grande parte da população como meio de transporte diário.
Fonte: SILVA, José
Lages. Escutando a adolescência nas grandes cidades através do grafite.
Rio Grande do Sul, 2004.
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