O principal objetivo do artigo é fazer uma discussão teórica sobre os conceitos
de juventude (baseado em SPOSITO e DYRELL) e lugar (baseado em RELPH, TUAN,
BUTTIMER, DAMIANI, SANTOS e CARLOS) tendo a cultura hip-hop como objeto
empírico. O autor divide o texto em 4 partes:
1º - Abordagem conceitual de juventude: Onde esse conceito é tido como
polissêmico. Assim o autor exemplifica o que cada autor compreende por
juventude. Para Sposito a juventude pode ir além de uma simples passagem da
liberdade infantil para a autonomia da vida adulta, variando muito de pessoa
pra pessoa. Já Dayrell subdivide esse conceito em duas partes: O conceito de
juventude geracional e a juventude classista. No primeiro a juventude é vista
como uma fase da vida (para alguns autores, inclusive, é um movimento fisco e
psicológico do homem), tida como fase de transição entre a infância e a vida
adulta, uma das críticas apontadas pelo autor é que há uma generalização da
idéia de juventude, negligenciando assim os aspectos históricos, sociais,
espaciais e culturais da juventude, aspectos estes significativos para
diferenciar os variados tipos de ser jovem no tempo e no espaço. Já o conceito
classista considera a juventude como um conjunto social necessariamente diversificado,
em razão das diferentes origens de classes.
Uma das críticas levantadas por Dayrell quando se trata do conceito de
juventude é que a maioria é criada com base na vida de jovens de classes médias
e altas da sociedade, não levando em consideração os jovens pobres. O autor
aponta o surgimento de uma 3ª vertente (proposta por ele), que busca afastar-se
dos dois pólos básicos, tanto o geracional quanto o classista e passa a
considerar a juventude enquanto condição e representação. Dayrell destaca ainda
que pela diversidade cultual deve-se levar em conta a existência não de uma
juventude, mas de juventudes, no plural, pois existem vários modos de ser jovem
e de viver a juventude.
2º - Abordagem conceitual de lugar: Para o autor:
“[...] todas as relações de
solidariedade e sociabilidade dos jovens se tecem a partir do lugar, onde
também os jovens constroem suas experiências e pelo fato de que cada lugar tem
sua especificidade, o que também irá influenciar de forma direta o nosso entendimento
sobre a juventude [...]”
Isso vai de encontro com a teoria que eu e o Dalvani tinhamos levantado
em relação a manifestação do movimento hip-hop com o lugar de origem (no caso a
periferia ou favela, por exemplo).
Voltando para a discussão do conceito Santos dá destaque para vários autores.
Para Fonseca o conceito de lugar emerge do processo de globalização, muito
ligado a fenomenologia, pois valoriza o caráter intencional, experiencial e
afetivo pelo qual o indivíduo ou o grupo estabelecem laços e identidade com uma
porção do espaço; Para Relph nós conhecemos o mundo pré-conscientemente através
e a partir dos lugares nos quais vivemos e temos vivido; Para Tuan o espaço é
tido como liberdade enquanto o lugar é visto como segurança; Para Buttimer o
lugar é o centro significativo, onde os atores envolvidos manifestam suas
práticas, criam suas representações e ligações afetivas e simbólicas, advindo
do lugar toda a construção do imaginário social intersubjetivo; Para Bossé o lugar
na geografia humanista é considerado um suporte essencial da identidade
cultural, retirando o caráter naturalista que tinha o mesmo, evidenciando assim
o vínculo fenomenológico e ontológico que ancora a pessoa humana; Para Santos
cada lugar é, ao mesmo tempo objeto de uma razão global e de uma razão local,
convivendo dialeticamente; Para Carlos o lugar deve ser entendido por
intermédio de uma dimensão interna, vinculado à sua história, e externa, que se
opõe e se submete ao processo de globalização. É no lugar que as ações da
globalização se materializam, e do lugar é possível entender o mundo com suas
variadas dimensões e contradições e deve ser analisado pela tríade habitante –
identidade – lugar.
Partindo de uma observação pessoa (Cachatori) se pegarmos os conceitos de
Bossé, somado com as explicações de Santos e Carlos podemos confirmar a tese
levantada nas discussões em nossas reuniões sobre hip-hop, favela, indivíduo,
lugar e ação política.
3º - Breve histórico da cultura hip-hop: O autor faz um resgate de como surge
a cultura hip-hop, as bases literárias utilizadas para isso são fundamentadas
em Rose, Herschmann e Rodrigues. Neste tópico o autor aponta algumas
informações, que de acordo com tudo o que já lemos foge um pouco da nossa
visão. Por exemplo, ele fala que o Break é de origem de Porto Rico e que o
Grafite e o Rap vieram da Jamaica (mas não é tão simples assim, há toda uma
“arvore genealógica” para chegar até esse ponto). Rose destaca que analisar o a
cultura hip-hop deve-se também levar em consideração as condições políticas,
sociais e cultuais do lugar. Baseado na leitura de Rose podemos perceber como o
lugar interfere de forma direta na configuração da cultura hip-hop:
[...] O hip-hop emerge de complexas
trocas culturais, da alienação e das desilusões sociopolíticas. O grafite e o
rap foram demonstrações públicas agressivas de uma outra presença e voz. Cada
um assegura o direito de escrever – ou melhor de inscrever – uma identidade em
meio um ambiente tão resistente quanto um teflon para os jovens de cor; um
ambiente que tornou legítima a falta de acesso a materiais e à participação
social. (ROSE, 1997, p.211).
Para Rodrigues o hip-hop é tido como um movimento político-cultural (que já
nasce globalizado), além de ser de uma cultura hibrida desde sua formação.
Outro destaque dado pelo autor é que:
[...] Na maioria dos casos a diferença
entre as diversas organizações são estabelecidas a partir da prática local, bem
como pelas atividades praticadas no cotidiano dos bairros, pelas preferências
por algum passo de dança, pelo vestuário, e pelas formas de samplear, pelo
sotaque vocal e pela introdução de novos utensílios técnicos (fazendo um adendo
a isso, ou até mesmo o skate, por exemplo – Cachatori). Por outro lado, para
Rose, grupos regionais de rappers, grafiteiros e dançarinos solidificaram um
vocabulário comum ao hip-hop, o que possibilitaria uma maior comunicação entre
eles. Em alguns lugares, o movimento articula um sentido de pertencimento e
transforma uma insubordinação agressiva em prazer e afirmação de identidades
[...].
É como se ao mesmo tempo em que é diferente é tudo igual (Cachatori), encaixa
corretamente na discussão do grupo sobre o “Eu” e o “Nós”.
4º
- A apropriação do hip-hop pela juventude brasileira: Santos faz um pequeno resgate
histórico de como a cultura hip-hop chega ao Brasil por volta de 1980 (através
da indústria cultural: filmes, discos, etc). Destacando o Break como o primeiro
elemento a se adaptar ao território nacional, principalmente em São Paulo (até
porque essa cidade já possuía as condições globais para que o hip-hop se
manifestasse enquanto cultura). Dayrell dá uma boa explicação da apropriação do
hip-hop pela juventude:
[...] os jovens constroem uma forma
própria de vivenciar o estilo rap em Belo Horizonte, o que dá ao estilo uma
feição local, mesmo com influências do Rio de Janeiro, São Paulo e EUA. Esta
constatação diz sobre os processos de difusão cultural no contexto de uma
sociedade cada vez mais globalizada [...].
Por fim, para concluir com todos os pensamentos convergentes finaliza-se este
fichamento com a ótima frase de Rodrigues: “É impossível pensar o Hip-Hop
dissociado do lugar de onde emerge, que são favelas, periferias, conjuntos
habitacionais”. Destaca ainda que o lugar é o espaço em que a negociação se
impõe, pela situação de coexistência, por isso ele é por excelência o espaço da
política.
Observações
pessoais (Cachatori):
O fichamento parece estar um pouco
extenso, entretanto é proposital, graças ao volume qualitativo de citações bem
colocadas na dissertação de Célio dos Santos. Esse texto dá pra discutir muita
coisa sobre hip-hop, lugar e juventude. Achei o texto ótimo, um dos melhores
que li em relação ao tema até hoje. Só deixo uma crítica ao autor, que pareceu
não se aprofundar muito no surgimento do Hip-Hop, entretanto os conceitos de
lugares e juventudes foram muito bem explanados.
Fonte:
SANTOS, Célio José dos. Juventude,
lugar e a cultura hip-hop: algumas aproximações teóricas. Dissertação parcial de Mestrado.
UFBA, 20xx.
Disponível
em: http://xiisimpurb2011.com.br/gt05/celiojose.pdf
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