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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Juventude, lugar e a cultura Hip-Hop

                    

    Thiago Luiz Cachatori

            O principal objetivo do artigo é fazer uma discussão teórica sobre os conceitos de juventude (baseado em SPOSITO e DYRELL) e lugar (baseado em RELPH, TUAN, BUTTIMER, DAMIANI, SANTOS e CARLOS) tendo a cultura hip-hop como objeto empírico. O autor divide o texto em 4 partes:
            1º - Abordagem conceitual de juventude: Onde esse conceito é tido como polissêmico. Assim o autor exemplifica o que cada autor compreende por juventude. Para Sposito a juventude pode ir além de uma simples passagem da liberdade infantil para a autonomia da vida adulta, variando muito de pessoa pra pessoa. Já Dayrell subdivide esse conceito em duas partes: O conceito de juventude geracional e a juventude classista. No primeiro a juventude é vista como uma fase da vida (para alguns autores, inclusive, é um movimento fisco e psicológico do homem), tida como fase de transição entre a infância e a vida adulta, uma das críticas apontadas pelo autor é que há uma generalização da idéia de juventude, negligenciando assim os aspectos históricos, sociais, espaciais e culturais da juventude, aspectos estes significativos para diferenciar os variados tipos de ser jovem no tempo e no espaço. Já o conceito classista considera a juventude como um conjunto social necessariamente diversificado, em razão das diferentes origens de classes.
            Uma das críticas levantadas por Dayrell quando se trata do conceito de juventude é que a maioria é criada com base na vida de jovens de classes médias e altas da sociedade, não levando em consideração os jovens pobres. O autor aponta o surgimento de uma 3ª vertente (proposta por ele), que busca afastar-se dos dois pólos básicos, tanto o geracional quanto o classista e passa a considerar a juventude enquanto condição e representação. Dayrell destaca ainda que pela diversidade cultual deve-se levar em conta a existência não de uma juventude, mas de juventudes, no plural, pois existem vários modos de ser jovem e de viver a juventude.
            2º - Abordagem conceitual de lugar: Para o autor:

“[...] todas as relações de solidariedade e sociabilidade dos jovens se tecem a partir do lugar, onde também os jovens constroem suas experiências e pelo fato de que cada lugar tem sua especificidade, o que também irá influenciar de forma direta o nosso entendimento sobre a juventude [...]”

            Isso vai de encontro com a teoria que eu e o  Dalvani tinhamos levantado em relação a manifestação do movimento hip-hop com o lugar de origem (no caso a periferia ou favela, por exemplo).
            Voltando para a discussão do conceito Santos dá destaque para vários autores. Para Fonseca o conceito de lugar emerge do processo de globalização, muito ligado a fenomenologia, pois valoriza o caráter intencional, experiencial e afetivo pelo qual o indivíduo ou o grupo estabelecem laços e identidade com uma porção do espaço; Para Relph nós conhecemos o mundo pré-conscientemente através e a partir dos lugares nos quais vivemos e temos vivido; Para Tuan o espaço é tido como liberdade enquanto o lugar é visto como segurança; Para Buttimer o lugar é o centro significativo, onde os atores envolvidos manifestam suas práticas, criam suas representações e ligações afetivas e simbólicas, advindo do lugar toda a construção do imaginário social intersubjetivo; Para Bossé o lugar na geografia humanista é considerado um suporte essencial da identidade cultural, retirando o caráter naturalista que tinha o mesmo, evidenciando assim o vínculo fenomenológico e ontológico que ancora a pessoa humana; Para Santos cada lugar é, ao mesmo tempo objeto de uma razão global e de uma razão local, convivendo dialeticamente; Para Carlos o lugar deve ser entendido por intermédio de uma dimensão interna, vinculado à sua história, e externa, que se opõe e se submete ao processo de globalização. É no lugar que as ações da globalização se materializam, e do lugar é possível entender o mundo com suas variadas dimensões e contradições e deve ser analisado pela tríade habitante – identidade – lugar.
            Partindo de uma observação pessoa (Cachatori) se pegarmos os conceitos de Bossé, somado com as explicações de Santos e Carlos podemos confirmar a tese levantada nas discussões em nossas reuniões sobre hip-hop, favela, indivíduo, lugar e ação política.
            3º - Breve histórico da cultura hip-hop: O autor faz um resgate de como surge a cultura hip-hop, as bases literárias utilizadas para isso são fundamentadas em Rose, Herschmann e Rodrigues. Neste tópico o autor aponta algumas informações, que de acordo com tudo o que já lemos foge um pouco da nossa visão. Por exemplo, ele fala que o Break é de origem de Porto Rico e que o Grafite e o Rap vieram da Jamaica (mas não é tão simples assim, há toda uma “arvore genealógica” para chegar até esse ponto). Rose destaca que analisar o a cultura hip-hop deve-se também levar em consideração as condições políticas, sociais e cultuais do lugar. Baseado na leitura de Rose podemos perceber como o lugar interfere de forma direta na configuração da cultura hip-hop:

[...] O hip-hop emerge de complexas trocas culturais, da alienação e das desilusões sociopolíticas. O grafite e o rap foram demonstrações públicas agressivas de uma outra presença e voz. Cada um assegura o direito de escrever – ou melhor de inscrever – uma identidade em meio um ambiente tão resistente quanto um teflon para os jovens de cor; um ambiente que tornou legítima a falta de acesso a materiais e à participação social. (ROSE, 1997, p.211).
           
            Para Rodrigues o hip-hop é tido como um movimento político-cultural (que já nasce globalizado), além de ser de uma cultura hibrida desde sua formação. Outro destaque dado pelo autor é que:

[...] Na maioria dos casos a diferença entre as diversas organizações são estabelecidas a partir da prática local, bem como pelas atividades praticadas no cotidiano dos bairros, pelas preferências por algum passo de dança, pelo vestuário, e pelas formas de samplear, pelo sotaque vocal e pela introdução de novos utensílios técnicos (fazendo um adendo a isso, ou até mesmo o skate, por exemplo – Cachatori). Por outro lado, para Rose, grupos regionais de rappers, grafiteiros e dançarinos solidificaram um vocabulário comum ao hip-hop, o que possibilitaria uma maior comunicação entre eles. Em alguns lugares, o movimento articula um sentido de pertencimento e transforma uma insubordinação agressiva em prazer e afirmação de identidades [...].

            É como se ao mesmo tempo em que é diferente é tudo igual (Cachatori), encaixa corretamente na discussão do grupo sobre o “Eu” e o “Nós”.
4º - A apropriação do hip-hop pela juventude brasileira: Santos faz um pequeno resgate histórico de como a cultura hip-hop chega ao Brasil por volta de 1980 (através da indústria cultural: filmes, discos, etc). Destacando o Break como o primeiro elemento a se adaptar ao território nacional, principalmente em São Paulo (até porque essa cidade já possuía as condições globais para que o hip-hop se manifestasse enquanto cultura). Dayrell dá uma boa explicação da apropriação do hip-hop pela juventude:

[...] os jovens constroem uma forma própria de vivenciar o estilo rap em Belo Horizonte, o que dá ao estilo uma feição local, mesmo com influências do Rio de Janeiro, São Paulo e EUA. Esta constatação diz sobre os processos de difusão cultural no contexto de uma sociedade cada vez mais globalizada [...].

            Por fim, para concluir com todos os pensamentos convergentes finaliza-se este fichamento com a ótima frase de Rodrigues: “É impossível pensar o Hip-Hop dissociado do lugar de onde emerge, que são favelas, periferias, conjuntos habitacionais”. Destaca ainda que o lugar é o espaço em que a negociação se impõe, pela situação de coexistência, por isso ele é por excelência o espaço da política.


Observações pessoais (Cachatori):
            O fichamento parece estar um pouco extenso, entretanto é proposital, graças ao volume qualitativo de citações bem colocadas na dissertação de Célio dos Santos. Esse texto dá pra discutir muita coisa sobre hip-hop, lugar e juventude. Achei o texto ótimo, um dos melhores que li em relação ao tema até hoje. Só deixo uma crítica ao autor, que pareceu não se aprofundar muito no surgimento do Hip-Hop, entretanto os conceitos de lugares e juventudes foram muito bem explanados.


Fonte: SANTOS, Célio José dos. Juventude, lugar e a cultura hip-hop: algumas aproximações teóricas. Dissertação parcial de Mestrado. UFBA, 20xx.

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